ESPAÇO CYBER DA PEKENA

Tuesday, December 05, 2006

Conforme prometido....O ARTIGO!!

Quando a TV não usa seu poder.

Resumo:

Este artigo tem por finalidade refletir criticamente a cerca do formato dos programas rotulados como educativos pela televisão. Para tanto abordará as leis que regem tais programas, configurações e potencialidades das produções televisivas e as posturas de estímulo à criticidade e seletividade no uso deste meio tão poderoso, relacionado com a educação.

Algumas considerações sobre a Televisão

A televisão, ao longo dos tempos, demonstra e reafirma suas potencialidades como tecnologia acessível a um número considerável de pessoas. È inegável o poder exercido por esse meio de comunicação sobre as pessoas. O tempo que se investe frente a esse aparelho pode significar parte considerável da vida. Por exemplo: quem gasta quatro horas por dia vendo TV ao chegar aos sessenta anos terá gasto dez anos na frente dela! Igualmente incontestável é o avanço do perigoso processo de mercantilização da TV e por conseqüência, de toda cultura, conhecimentos, valores e informações por ela difundidos. Desta forma, ao invés de tornar-se um forte aliado da educação e da cultura nacional, a televisão subordina-se às leis de mercado, fato que torna cada vez mais difícil o processo de educação por seu intermédio.

A coletividade e a lei

Educar através da televisão pressupõe um compromisso por parte das emissoras em difundir um número maior de programas de qualidade voltados especialmente a jovens e crianças. Tal comprometimento só se desenvolve plenamente de forma coletiva, por meio da cooperação de toda sociedade: indústria, sistemas científico, educativo e formativo, ONGS, poderes regionais e locais, organismos internacionais, governos, instituições governamentais, parlamentos e poderes legislativos. Todos intermediados por uma legislação construída ao longo do tempo.

Mas na vida real, é justamente a lei que fracassa. A constituição em seu artigo 221 inciso I determina, entre outras coisas, que as emissoras de TV dêem preferência a finalidades educativas. Contudo, na lei não há uma definição precisa do conceito de programa educativo nem existem regulamentos claramente expressos para inclusão de atrações deste tipo na programação das emissoras. O corpo da lei foi se alterando ao longo do tempo. “Segundo o decreto n. 236/67, o papel educativo cumpre-se apenas pela mera transmissão de aulas, conferências, palestras e debates” (CARNEIRO,s/d). Com a portaria n. 408/70, obrigou-se as emissoras comerciais a transmitirem programas educativos cinco horas por semana, sendo trinta minutos diários de segunda-feira a sexta-feira e setenta e cinco minutos aos sábados e domingos, entre sete e dezessete horas. Em 1980 com a portaria n. 561 ficou a cargo da emissora, respeitando ainda a distribuição semanal, o horário de transmissão. Mas é em 1991 que ocorre o mais absurdo: a programação educativa passa a ter a obrigatoriedade de somar não mais cinco horas semanais, mas apenas dois programas de vinte minutos da programação da emissora, a serem exibidos nos sábados e domingos. Finalmente no artigo 88 do projeto da nova lei de radiodifusão, anunciado pelo ministro das Comunicações Pimenta da Veiga, fala-se na avaliação dos programas educativos por pedagogos e psicólogos a serem disponibilizadosWIKIPEDIA. Disponível em: <>. Acesso em: 15 de novembro de 2006. pela própria emissora.

È visível a separação, que a própria lei estimula, entre educação e televisão. Em geral a concepção de educativo da maioria das pessoas está totalmente confinada á sala de aula e, por extensão, ao livro didático. As características comumente atribuídas à educação são de total recolhimento (em si) do aluno e uso único da razão instrumental, que privilegia o conhecimento científico e tecnológico. Já a televisão cria no imaginário popular um ideal de entretenimento, emoção e evasão. Tais visões paradoxais e separatistas não poderiam resultar noutra coisa senão na não utilização de todas as potencialidades da televisão em benefício da educação.

A TV e suas produções

É impossível falar do potencial televisivo sem mencionar suas produções, a exemplo das novelas, séries, mini-séries, jornais e filmes. Estes últimos, à partir de 1995 sofreram reformatações constantes, já que possuíam um conceito muito baixo por parte do grande público. Atualmente os filmes brasileiros desfrutam de maior prestígio dentro e fora do território nacional, inclusive concorrendo a prêmios no exterior. Os jornais são inovados a cada dia. Estão marcados pela superficialidade, advindas de um verdadeiro show de variedades. Em sua maioria apresentados por casais, bem arrumados e maquiados que preferencialmente tenham um bom entrosamento, conduzindo a notícia de modo bem informal. Para tanto são comuns conversas entre os âncoras e os repórteres. Migram do estúdio fechado para a redação e para as externas. Enquanto o jornal acontece em primeiro plano, em segundo podem ser contempladas obras de arte ou simplesmente os redatores e jornalistas se deslocando em seu ambiente de trabalho. Predomina a linguagem simples e direta, além de despedidas cada vez mais intimistas. Quem há alguns anos atrás imaginaria ver um jornalista se despedir dos espectadores desejando a estes uma semana bárbara? Maior surpresa é ver, com freqüência o telejornal discutir e polemizar as cenas da novela, articulando ficção e realidade. Esta requer um parágrafo à parte.

“Uma produção à parte”

Por meio de enredos simples e envolventes as telenovelas aumentam consideravelmente seu número de espectadores a cada dia. As temáticas que se misturam e se repetem são as mais variadas: histórias de amor, conflitos familiares, uso de drogas, graves problemas de saúde (Aids, câncer), entre outros. Nelas está sempre presente a dicotomia entre o bem e o mal. O desenrolar da trama e o seu desfecho são alterados conforme opinião do público. “Os capítulos têm em média 55 minutos diários e são exibidos de segunda a sábado, com uma duração total de oito meses. Este é geralmente o prazo de validade desta produção cultural” (wikipedia,s/d) . Os atores geralmente seguem um rígido padrão de beleza. A maior preocupação não é a boa representação deles, mas a escolha certa do formato. E isto mostra-se verdadeiro não só para a novela, mas também para os filmes e telejornal. Para tanto, foca-se em três dimensões: a boa escolha da imagem, já que ela motiva nossos sentimentos (raiva, tristeza, alegria); a boa escolha da música, que afeta de forma profunda nossas emoções, e a escolha precisa das palavras que influenciam pensamentos, sentimentos e ações. Há ainda uma quarta dimensão, a da inovação constante para cativar o público, para manter o interesse, já que vivemos numa sociedade na qual o novo torna-se velho velozmente.

O rótulo - educativo

Mas quando a TV formula um programa e rotula-o como educativo tudo muda. Parece haver a idéia de que toda expressividade própria do meio televisivo não é compatível com o pedagógico. Este meio poderoso, que consegue afetar tão profundamente a emoção neste caso nega-se a fazê-lo, por supervalorizar o cognitivo em detrimento do emotivo. E a dimensão da inovação é freqüentemente desconsiderada.

Uma rápida análise da programação das emissoras nos evidencia o inexpressivo número de programas educativos. Estes estão em maior quantidade na rede de televisão de maior audiência do país, e os horários escolhidos para sua exibição evidenciam a importância que lhes é conferida, ou seria melhor dizer a não importância? Durante a semana os três programas com este fim se iniciam às cinco e vinte cinco da manhã e encerram-se às seis e quinze, tendo uma duração média de quinze minutos cada um. Se o horário mal cativa ou envolve o público, a linguagem e formato, por não utilizarem as características do meio e por tentarem reproduzir a escola,também contribuem para seu fracasso. Parece que os programas educativos não conseguiram seguir o mesmo ritmo evolutivo das produções televisivas como um todo. Como não podemos personificá-los é mais sábio dizer que os responsáveis por sua produção não os fizeram acompanhar tais transformações. Foram esquecidos, e pela evidências, de forma intencional.

A TV educa

Apesar de todas as questões levantadas anteriormente é impossível negar seu poder de educar, e não apenas através dos citados programas educativos. Educar, segundo a WIKIPEDIA, “engloba ensinar e aprender. E também algo menos tangível mas mais profundo: construção do conhecimento bom julgamento e sabedoria. A educação tem nos seus objetivos fundamentais a passagem da cultura de geração para geração” (WIKIPEDIA,s/d). A televisão educa ,diariamente, os espectadores interferindo na sua construção de conhecimentos. Também aprende com eles, tanto é que estrutura e modifica, suas programações de acordo com a opinião popular. Na dimensão transmissão de cultura, este meio de comunicação o faz destacadamente. Grande parte do imaginário cultural popular é influenciado por ele. Tomando-se por exemplo a história brasileira- as figuras de índio, portugueses, escravos, negros, senhores de engenho entre ouros, que vêm à mente da maioria das pessoas é aquela apresentada pela televisão. Portanto, mesmo sem o rótulo educativo, novelas, jornais, filmes, programas de auditório entre outros, também educam.

Mas o que fazer frente a esta realidade?

É fundamental que o sistema educacional estimulado especialmente por pais e professores incentive os jovens a serem ativos e não passivos enquanto espectadores, no sentido de avaliarem criticamente os conteúdos, informações, valores e conhecimentos difundidos pela televisão. Eles precisam aprender a ser seletivos. Além disso, não basta criticar a extrema superficialidade dos jornais ou a futilidade das novelas e filmes, as pessoas não deixarão de assisti-los ou de serem influenciados. De nada adiantará fingir que estes não existem, trazê-los para dentro dos espaços educativos é muito mais produtivo. Assim, os professores poderão utilizar as temáticas exibidas na TV para dar início a novos conteúdos, para promover debates e suscitar a curiosidade e criatividade dos alunos. Por mais difícil que pareça a execução de tais idéias, enquanto as enxergarmos como uma tele visão (do grego tele - distante e do latim vision - visão) ela verazmente o será.

Referências bibliográficas

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMISSORAS PÚBLICAS, EDUCATIVAS E CULTURAIS. Manifesto por uma televisão para a educação e a cultura. Disponível em: <www.abepec.com.br/tv_publica.asp> Acesso em: 12 de novembro de 2006

CARNEIRO, Vânia Lúcia Quintão. A televisão e o vídeo na escola: televisão e educação - aproximações. Disponível em: <www.tvebrasil.com.br/SALTO/boletim2002/tedh/tedhtxt3a.htm>. Acesso em: 02 de novembro de 2006

MERTEN, Luiz Carlos. Jornal hoje. Disponível em: <http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/qtv250720017.htm> Acesso em: 15 de novembro de 2006.

REDE GLOBO DE TELEVISÃO. Programação completa. Disponível em: <http://redeglobo.globo.com> . Acesso em: 15 de novembro de 2006

WIKIPEDIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org>. Acesso em: 15 de novembro de 2006.